sábado, 3 de junho de 2006

Bino não bebe café

Parte 1 - Café o Emigrante.

Se um dia me sair o euromilhões, sou homem para abrir um café, ou mesmo uma tasca.
Coisa fina, é claro. Com esmerado serviço de bar, ambiente seleccionado e letreiro a anunciar "nova gerência".
Bem sei que a localização é fundamental para o sucesso de qualquer café. O meu terá de ser à beira duma estrada movimentada, à beira-mar, ou então à beira dum posto da GNR ( resumindo, à beira de qualquer coisa).
Depois vem o nome, outro pormenor que pode decidir o sucesso ou a falência de qualquer projecto desta natureza. Costumo percorrer imensos quilómetros por essas terras de Portugal, sempre reparando no nome de cafés, bares e restaurantes por onde passo, e concluí que há nomes que desafiam os limites da imaginação humana. Por exemplo, " Café Central " ou mesmo, "Restaurante, o Emigrante". Quem terá sido o génio que inventou semelhantes nomes ? Desconheço, mas fico verde de inveja perante tanta imaginação.
Ah ! Mas o meu ainda será melhor, porque se um dia tiver um café há-de chamar-se "o Camonista " .
Que acham ? Parece-me ser um caso excepcionalmente feliz na forma como acumula várias boas características. Reparem, consegue ter um erro ortográfico, o que agrada à maioria dos portugueses; depois, agrada a profissionais do volante em geral e a camionistas, em particular; agrada também a camonistas (isto é, a intelectuais admiradores ou estudiosos de Camões ) e ainda a " Camones " (aqueles turistas da Europa civilizada, embora por vezes de pé descalço e a tresandar ).

Parte 2 - Em busca do café Princesinha ( baseado parcialmente em acontecimentos ocorridos comigo na semana passada ).

Um estranho sentimento avisava-me para não pedir informações àquele indivíduo estranhamente parecido com um dos rapazes que entram no Gato Fedorento, mas não havia mais ninguém nas redondezas, pelo que arrisquei:
- Se faz favor, sabe informar-me onde fica o café Princesinha ?
- Olhe, tem já aqui um café.
A semelhança do indivíduo com o mais engraçado dos Fedorentos era, no mínimo perturbadora. O rosto, as expressões e até a voz eram semelhantes. Talvez por isso não me espantei quando verifiquei que o café, situado no outro lado da rua, e para o qual o indivíduo apontava convictamente com o dedo, possuía um toldo cor de rosa choque, onde para além da publicidade aos cafés Delta se podia ler em grandes letras amarelas, "Café Bagdad".
- Não ! Eu procuro o café Princesinha.
- Esse, não conheço. Mas tem já aqui o Bagdad e logo a seguir, o Emigrante.
- Mas eu procuro o Princesinha...
- Cá na terra só há 3 cafés, o Bagdad, o Emigrante e o do Barbosa. O do Barbosa fica à saída da terra. Para ir lá ter, siga sempre em frente.
- Deixe estar, vou perguntar àquelas duas senhoras.
Aproximei-me de duas velhotas que vinham a descer a rua:
- Minhas senhoras, procuro o café Princesinha...
- Esse café, a dona deixou o marido e fugiu com outro para Lisboa.
- E o café, fechou ?
- Não senhor. O Barbosa, que era o marido da Princesinha, mudou-lhe o nome para café Vaca Louca. Para ir lá ter vá sempre em frente.
- Muito obrigado.
Enquanto me afastava de carro, o homenzinho confirmou a informação das velhotas gritando repetidamente, "é sempre em frente, segue, segue sempre em frente".
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P.S. - 2 horas depois cheguei a Lisboa, seguindo sempre em frente e sem encontrar o café do Barbosa.